Em
22/12/2011
O
Natal é um momento de muita simbologia. Talvez tudo em nossa vida tenha um
significado para além das aparências. Estamos em constante transformação,
imaginando o futuro, lembrando do passado e tentando compreender o presente.
Nessa constante filosófica, buscamos elementos que nos liguem a realidade, até
para que não nos percamos nos devaneios das sinapses cerebrais, dos vícios dos
nossos neurotransmissores. Os símbolos podem ser adorados, cultuados, até mesmo
menosprezados, mas, são sempre retomados e as vezes ressignifcados quando o ser
humano se sente frágil, quando tem medo, quando descobre suas fraquezas. O
próprio nascimento se faz numa passagem, já nascemos mudando, nos transformamos
em algo diferente a partir do que já somos, a cada milésimo de segundo. Essa
mudança as vezes é tão assustadora que não paramos para observá-la, para
admirá-la, entendê-la. Vivemos como se nada acontecesse ou como se não tivessemos
tempo para esse tipo de coisa. Mas, todos temos um momento de auto-percepção,
de (re)conhecimento pessoal. Por muito, criamos nossos próprios símbolos,
desenhamos nossas próprias máscaras para tornar essa passagem aparentemente
segura. Cultuamos um ser que é frágil e minúsculo, mas também muito forte e
magnífico: nós mesmos. Aceitar os limites, as impossibilidades e a pequines
diante de um universo sem limites pode ser algo difícil, e que muitas das vezes
nem fazemos, afinal, melhor não pensar nisso, assusta. Se conhecer
profundamente, descobrir seu universo interior, talvez seja tão difícil quanto
embarcar numa missão espacial. Quantos de nós se olha no espelho e tem a
certeza do que vê? É possivel ter a certeza do que se é e do que se quer?
Nascemos em uma transformação inesperada. Não sabemos no que nos tornaremos e
em parte tentamos moldar nossos desejos, estabelecer padrões e formas adequadas
de ser. Por alguns instantes até podemos acreditar nos personagens que criamos
para nós. Embora, o reencontro com nossa essência possa ser dolorida,
principalmente se nos acostumamos com a pintura que elaboramos sobre nós
mesmos. Reencontrar-se, olhar-se diante do espelho e aceitar que você não é
como gostaria que fosse, pode ser algo tão sinistro que evitamos fazê-lo. Nossa
descoberta é diária, e, ser sincero com nós mesmos não é algo tão simples
quanto parece. Muitas das vezes quem segura o espelho diante de nossa face são
os outros, que põem nossas farsas em risco. Mas, increvelmente quando o outro
nos força a olhar um pouco mais adentro, somos capazes de recusar nossas
mazelas e não aceitar a transformação que somos. Reagimos com ódio, com inveja,
com ciúmes. Jogamos a culpa no outro, viramos nosso olhar para outro e mais uma
vezes adiamos o olhar na direção do espelho, o mirar para dentro. Não nos
fazemos sozinhos, e portanto devemos parte dessa transformação aos outros,
mutantes, que compartilham da mesma experiência de viver. Às pessoas que
compartilham suas transformações, as quais podemos ou não somar experiências,
devemos sentí-las, como a essência de uma flor se abrindo. Ninguém ensina como
florescer, mas a amizade pode tornar mais intensa e perceptível essa passagem
(...) As palavras me faltaram para concluir esse texto, o cansaço foi maior.
Mas, a inquietação e o incômodo não são pequenos. Continuo me perguntando por
que é tão difícil mudar?!
Em 25/12/2011