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Ultimanente temos observado o abuso de poder por parte das forças policiais. O cidadão comum já sofre cotidianamente com ações violentas e indiscrimanidas ou discriminatórias, cabe ressaltar. Observamos professores sendo presos por protestar (Juiz de Fora), observamos professores sendo brutalmente agredidos no Ceará, observamos estudantes sendo presos em massa em São Paulo. As proporções alcançadas por esses eventos são sinônimo de algo muito significativo e preocupante: a incapacidade e a falta de vontade dos dirigentes políticos em negociar coisas essenciais - melhores condições de trabalho aos professores, liberdade e autonomia das universidades, entre outros. A ausência de negociação, e o que é pior, o desrespeito ao direito de qualquer cidadão de ser ouvido, de reinvindicar, é simplismente ignorado pelos governantes, simbolicamente eleitos de forma democrática, mas que do alto de seus poderes governam de forma ditatorial, porque sequer ouvem, sequer olham, sequer falam, com o povo (a não ser no período de campanha). Obviamente que a força policial está a serviço do poder, de quem está no poder. Isso foi assim na Ditadura Militar, e continua sendo assim em nossa recente e torta democracia. No entanto, antes de procurarmos culpados, é preciso entender uma coisa: a ausência de verdadeiros espaços democráticos onde as pessoas possam ser ouvidas, possam falar, possam dialogar sobre suas opiniões e posições, de fato é evidência da nossa incapacidade em viver democraticamente. A dificuldade de diálogo, a impossibilidade de negociações, sempre empurram as pessoas para atitudes nada cordiais, desobedientes, as vezes violentas, muitas vezes classificadas como criminosas ou depredatórias. Porém, não fossem os perturbadores da ordem pública, os traídores da pátria, os estudantes perigosos, os professores baderneiros, talvez ainda vívessemos sobre a égide de uma "ditadura oficial". Porém, até que ponto estamos em um regime verdadeiramente democrático? A mídia tem, entre outras coisas lamentáveis, tornado a análise de fatos e acontecimentos importantes em nossa sociedade algo extremamente raso e superficial. O que temos lido, por exemplo, sobre o movimento estudantil na USP, é que se trata de um "bando de maconheiros e filhinhos de papai" incomodados porque não podem mais usar drogas livremente no campus da universidade. Mas, perguntas se levantam: alguém está questionando a atitude do reitor da USP? Alguém está questionando a atitude da Polícia Militar? Alguém está prestando atenção nas ações do governador do Estado de são Paulo? Essa visão de que estudantes-manifestantes sempre são filhinhos de papai em carros de luxo, ou maconheiros, não é uma imagem construída agora, trata-se de uma desclassificação do movimento estudantil, uma tentativa de monosprezá-lo e ridicularizá-lo perante a opinião pública, já feita em outras ocasiões. Que existe estudantes usuários de droga, todos sabemos. Assim como, existe governador, deputado, senador, usuários de drogas, que dirigem alcolizados, sem carteira de habilitação (entre outras coisas que não cabe aqui apresentar) e depois vão para o plenário defender a honra e a família. Reduzir eventos desse tipo a "revolta de mimados" e defender o abuso de poder por parte do Estado, através da PM, não contribui em nada para o amadurecimento da vivência democrática em nosso país. Apenas reforça a ausência de liberdade e justifica a ação violenta contra aqueles que não se contentam em simplesmente abaixar a cabeça e obedecer. Por isso, essa discussão é necessária, para evitar que ações repressivas e autoritárias sejam naturalizadas e permitidas em nossa frágil democracia. Estamos observando, mas, não podemos apenas observar, precisamos avaliar e interpretar os interesses em jogo, a posição dos atores. Democracia não se conquista com obediência, mas o poder sim, esse se mantém com opressão e violência, prendendo estudantes, batendo em professores, recusando o diálogo.
Liberdade não é conceito, é conquista!
09/11/2011
Os links ao longo do texto direcionam para os textos que motivaram essa reflexão.
Leandro Matos
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