Não estou aqui pra ser alfabetizado por nenhum tupi-guarani
Cresci em meio à terra seca e a terra molhada
Subindo e descendo das árvores
Correndo com os cachorros
Infiltrado no meio de bambuzais
No centro de uma pedreira corria água nas entranhas marginais
Era dessa água que eu bebia
Meio menino lobo, estava meio sozinho.
A outra metade era natureza
Conheço a língua das árvores,
Ao menos sei o seu toque
A aspereza e lisura de cada casca
Inté o cheiro das folhas
Acho que brotei numa beira de barranco
Metade do ano seca, metade do ano minando água
Por quantas estradinhas meus carrinhos e boizinhos passaram
Fui engenheiro de quintal, moleque artesão
Arquitetei cidades no meio do mato
Fui pai e irmão de galinhas, de gaviões, periquitos e passo preto.
Tinha ouriço do mato no esteio da minha casa
Na parede do meu quarto e na minha cama aranhas
E passei muitas vezes por cima de cobras,
Quantas vezes já filosofei nos galhos das mangueiras
Quantas vezes já me confessei entre as folhas do pé de jambo
Quantas vezes já flertei com um frágil pé de cereja
Todas elas me ouviam em silêncio
Todas elas me ensinvam algo em silêncio
Elas me acolhiam de forma tão carinhosa
Nenhum silêncio depois desse foi tão reconfortante e didático
Nenhum silêncio depois desse foi tão honesto e amigo como dessas árvores
Mas descobri outros silêncios
Arrogantes, misteriosos, ausentes, objetos
Silêncios ignotos, silêncios que amaldiçoam
Silêncios que se acham espertos
O meu silêncio e os dos outros
Até achei silêncios carinhosos,
Mas nenhum deles souberam me ouvir e me acolher como elas
Aquelas velhas árvores sábias
Mas eu cresci e me arranquei para o asfalto
Me mudei pra um lugar empoeirado e de concreto
Eu perdi o carinho das arvores
Eu perdi o silêncio didático das árvores,
Eu perdi
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