segunda-feira, 15 de outubro de 2012

MONÓLOGO DO SILÊNCIO


Eu estou aqui, se a pessoa quiser, ela que me procure! Isso faz sentido? Isso ajuda em alguma coisa? Por que eu tenho a sensação de que eu sempre estou errado? Sempre sou eu que estou entendendo as coisas de forma errada ou agindo de maneira inadequada? Então, como apareço geralmente vitimado, angustiado, confuso, indeciso, cheio de conflitos, insatisfeito, ou seja, desarranjado com a vida, a sensação, tem hora, é de que as pessoas, todas, têm lições a me dar. Elas sempre têm algo a me ensinar. Mesmo que seja me mandarem ficar calado, afinal, o silêncio é importante. Se eu quero falar, os amigos me dizem que preciso aprender a fazer silêncio. Na terapia, dizem que tenho dificuldade de falar. Então eu me calo ou eu falo? Estou ficando cansado dessa gente que acha que sabe de tudo. Eu não sei de nada, por isso estou sempre na dúvida, não tenho certeza nem mesmo do que sinto. Deve ser por isso que eu estou sempre errado, não? Como é mesmo possível alguém não saber nem o que quer?
Eu gostaria muito de falar com você. Sim, um dia nós vamos conversar. Eu gostaria muito de resolver isso com ele. Sim, mas você precisa primeiro resolver isso com você. Eu preciso conversar com você! Silêncio. Eu preciso conversar com ele! Faça Silêncio. O que você pensa sobre isso? Como você está se sentindo? Quer saber, calem a boca vocês!
Não é bem assim! Então como é, me diga? É do seu jeito? Por que parece que do meu está errado, não é? Tira esse jeito de santo, de profeta de qualquer coisa e confessa que você tem medo de gente. Tem medo de se aproximar demais e ainda diz que eu estou errado. Vive no casulo e quer me dar aula de voar? Eu sei que a lagarta e a borboleta são as mesmas pessoas, só que transformadas. Agora, agradece pela amizade, mas acha que ela só é boa se for distante?
Indiferença. Talvez seja mesmo isso. Rejeição. Talvez eu não saiba lidar com tal sentimento. Por alguns motivos às vezes achamos que estamos ligados uns aos outros. Até nos vemos gratos por algumas experiências superiores. A espiritualidade mostra-nos caminhos inimagináveis. Mas quando se vê de carne e osso ignora a dificuldade alheia. Se contenta com encontros casuais e sonhos vagos que deseja serem mais importantes que o toque e o olhar.
Esse deserto é cheio de água e a gente pode se afogar. Quanto custa dar a mão a um amigo caído? É só a força de erguer o braço. Mas é preciso estar esperto, disponível, acessível. E como ajudar um amigo se você também tiver caído. Dois são sempre mais forte que um. Mas e se eu quiser ficar longe de vocês? Vá e fique contente, mas a amizade não se sustenta com telepatia.  Cada um tem seu momento, mas ninguém vive sozinho. Cada um precisa de seu espaço, para gritar e até para fazer silêncio. Mas, não é por acaso que o som não se propaga no vácuo. O silêncio total não existe, ou só existiria se nada existisse. Porque até os pássaros cantam. Toda explosão no universo, mesmo sem som, gera luz!



Um comentário:

  1. Você foi no ponto: o que QUEREM que você faça. Todo mundo quer dar opinião na sua vida. Mas na hora de escutar, silêncio. Você fala demais. Acabei de perder uma amizade (que não sei se era amizade, pois não me aceitava) por esse motivo. Calar às vezes é necessário. Mas falar mantém os laços. Sóbria reflexão Lelê!

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