quarta-feira, 31 de outubro de 2012

E O FOGÃO DE LENHA



No cantinho de uma casa simples,
Onde mora uma gente simples,
Acende o fogo no fogão.
Palha ou papel, fogo, assopra.
O feixe de lenha seca em brasa.
A panela preteja de carvão,
E a gente olha o estalar dos galhos
E quase escuta a fumaça que se levanta pela chaminé.
E o calor dessa fornalha leva o cheiro da comida pela casa toda.
É o café torrado, a farinha, a broa de milho, a batata doce assada.
A linguiça e o toicinho pendurado sobre a chapa, conserva e defuma.
A chama calma que consome a lenha,
também esquenta a bulhenta serpentina,
E faz o banho quente dessa gente fina.
É todo dia aquela rotina.
Separa lenha, corta lenha, seca a lenha, apanha a lenha,
E coloca no fogão.
Daí é causo contado, dose de pinga, barriga cheia,
Risada e sossego, silêncio e falação.
Há quem conte mais sobre as histórias de Minas
Mas há Minas inteiras contadas na beira do fogão de lenha.


domingo, 21 de outubro de 2012

ENCONTRO E DESENCONTRO

Onde foi o desencontro? Qual foi o segundo de tempo que minha alma separou-se do meu ser? O tempo parou, mas só dentro de mim. O restante continua a se mover. Os dois sobrevivem, mas sofrem pelo apartar da essência sensorial. Ainda existe um fluxo de energia que os mantém unidos, mesmo na contracorrente que seguem. Vão em direções opostas e por isso as coisas parecem tão confusas. mas eles podem reencontrar a direção? É preciso girar um eixo interno e realinhar os ponteiros quando a bússola estiver desorientada. Os astros se revoltam sempre ao mesmo lugar. Talvez o eclipse do reencontro seja tão sombrio e doloroso quanto do desencontro. Mas, uma coisa é certa. Tão logo a alma e o ser se conectem por completo, todo o deslocamento se iniciará novamente, distanciando-se lentamente, rumo ao desconhecido, até que nos encontramos novamente. Nos encontramos modificados, alterados, diferentes. Talvez nem nos reconheçamos. Então questionamos o que queremos, quando nossa essência se parte em duas, ou mais, direções opostas. Mas, estranho é entender que essas direções opostas, na verdade, levam a um reencontro. Isso não significa que o deslocar dos astros seja simples e tranquilo. O reencontro consigo mesmo pode ser breve como as fases das lua, severo com a mudança das estações, ou tender ao infinito como a expansão do universo. Quando esse reencontro demora demais, o corpo sofre, a mente padece, a matéria perece. Mas, ainda assim parece que não é esse encontro o grande objetivo para nós. Afinal, cada encontro leva a um novo desencontro, que leva a um novo encontro. Talvez, a grande chave para decifrar o enigma dessa conexão, esteja na dança mágica das estrelas e dos corpos celestes, da qual fazemos parte, e que em pequena escala chamamos de vida. Onde estamos agora?


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

MONÓLOGO DO SILÊNCIO


Eu estou aqui, se a pessoa quiser, ela que me procure! Isso faz sentido? Isso ajuda em alguma coisa? Por que eu tenho a sensação de que eu sempre estou errado? Sempre sou eu que estou entendendo as coisas de forma errada ou agindo de maneira inadequada? Então, como apareço geralmente vitimado, angustiado, confuso, indeciso, cheio de conflitos, insatisfeito, ou seja, desarranjado com a vida, a sensação, tem hora, é de que as pessoas, todas, têm lições a me dar. Elas sempre têm algo a me ensinar. Mesmo que seja me mandarem ficar calado, afinal, o silêncio é importante. Se eu quero falar, os amigos me dizem que preciso aprender a fazer silêncio. Na terapia, dizem que tenho dificuldade de falar. Então eu me calo ou eu falo? Estou ficando cansado dessa gente que acha que sabe de tudo. Eu não sei de nada, por isso estou sempre na dúvida, não tenho certeza nem mesmo do que sinto. Deve ser por isso que eu estou sempre errado, não? Como é mesmo possível alguém não saber nem o que quer?
Eu gostaria muito de falar com você. Sim, um dia nós vamos conversar. Eu gostaria muito de resolver isso com ele. Sim, mas você precisa primeiro resolver isso com você. Eu preciso conversar com você! Silêncio. Eu preciso conversar com ele! Faça Silêncio. O que você pensa sobre isso? Como você está se sentindo? Quer saber, calem a boca vocês!
Não é bem assim! Então como é, me diga? É do seu jeito? Por que parece que do meu está errado, não é? Tira esse jeito de santo, de profeta de qualquer coisa e confessa que você tem medo de gente. Tem medo de se aproximar demais e ainda diz que eu estou errado. Vive no casulo e quer me dar aula de voar? Eu sei que a lagarta e a borboleta são as mesmas pessoas, só que transformadas. Agora, agradece pela amizade, mas acha que ela só é boa se for distante?
Indiferença. Talvez seja mesmo isso. Rejeição. Talvez eu não saiba lidar com tal sentimento. Por alguns motivos às vezes achamos que estamos ligados uns aos outros. Até nos vemos gratos por algumas experiências superiores. A espiritualidade mostra-nos caminhos inimagináveis. Mas quando se vê de carne e osso ignora a dificuldade alheia. Se contenta com encontros casuais e sonhos vagos que deseja serem mais importantes que o toque e o olhar.
Esse deserto é cheio de água e a gente pode se afogar. Quanto custa dar a mão a um amigo caído? É só a força de erguer o braço. Mas é preciso estar esperto, disponível, acessível. E como ajudar um amigo se você também tiver caído. Dois são sempre mais forte que um. Mas e se eu quiser ficar longe de vocês? Vá e fique contente, mas a amizade não se sustenta com telepatia.  Cada um tem seu momento, mas ninguém vive sozinho. Cada um precisa de seu espaço, para gritar e até para fazer silêncio. Mas, não é por acaso que o som não se propaga no vácuo. O silêncio total não existe, ou só existiria se nada existisse. Porque até os pássaros cantam. Toda explosão no universo, mesmo sem som, gera luz!



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PERDI


Não estou aqui pra ser alfabetizado por nenhum tupi-guarani
Cresci em meio à terra seca e a terra molhada
Subindo e descendo das árvores
Correndo com os cachorros
Infiltrado no meio de bambuzais
No centro de uma pedreira corria água nas entranhas marginais
Era dessa água que eu bebia
Meio menino lobo, estava meio sozinho.
A outra metade era natureza
Conheço a língua das árvores,
Ao menos sei o seu toque
A aspereza e lisura de cada casca
Inté o cheiro das folhas
Acho que brotei numa beira de barranco
Metade do ano seca, metade do ano minando água
Por quantas estradinhas meus carrinhos e boizinhos passaram
Fui engenheiro de quintal, moleque artesão
Arquitetei cidades no meio do mato
Fui pai e irmão de galinhas, de gaviões, periquitos e passo preto.
Tinha ouriço do mato no esteio da minha casa
Na parede do meu quarto e na minha cama aranhas
E passei muitas vezes por cima de cobras,
Quantas vezes já filosofei nos galhos das mangueiras
Quantas vezes já me confessei entre as folhas do pé de jambo
Quantas vezes já flertei com um frágil pé de cereja
Todas elas me ouviam em silêncio
Todas elas me ensinvam algo em silêncio
Elas me acolhiam de forma tão carinhosa
Nenhum silêncio depois desse foi tão reconfortante e didático
Nenhum silêncio depois desse foi tão honesto e amigo como dessas árvores
Mas descobri outros silêncios
Arrogantes, misteriosos, ausentes, objetos
Silêncios ignotos, silêncios que amaldiçoam
Silêncios que se acham espertos
O meu silêncio e os dos outros
Até achei silêncios carinhosos,
Mas nenhum deles souberam me ouvir e me acolher como elas
Aquelas velhas árvores sábias
Mas eu cresci e me arranquei para o asfalto
Me mudei pra um lugar empoeirado e de concreto
Eu perdi o carinho das arvores
Eu perdi o silêncio didático das árvores,
Eu perdi